sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um pequeno passo para o homem

(Só para constar, este texto foi escrito três dias depois do quadragésimo aniversário da chegada do homem à Lua)

Existe além do carpete cor de palha, um piso de madeira... Está velho e gasto, mas ainda está. Além do piso, passou ainda a poucos instantes uma barata pela velha tubulação. Ela passou despreocupada, pois lá em baixo, não há quem a queira pisar, não há mesmo! E ela caminhou por alguns minutos, uma eternidade para quem tem vida tão curta e tão dura. Parou na beira de uma vala qualquer, e pensou (se é que barata pensa) em seu jantar... Se pudesse, sei que comeria caviar com trufas, ou filé à moda da casa, mas na falta de algo melhor, baratas comem... O que as baratas comem? Insetos menores, eu acho. Nunca estudei as baratas em toda a minha vida. Se eu for parar para pensar, na verdade estudei muito pouco, e tudo inútil. Não me interessa saber que o meristema é responsável pelo crescimento da planta, poxa! Ela cresce, não cresce? Isso seria mais do que o suficiente. Ai, se um dia me perguntarem o que comem as baratas, eu vou responder; "Não sei, mas sei que as plantas crescem por causa dos meristemas...". Mas isso não vem ao caso, voltemos à barata. Lá estava a barata, pensando em caviar e filé enquanto comia pequenos insetos (?) e bebia... Barata bebe? Acho que não, mas nenhum ser vivo vive sem água, então barata bebe. Retomando, e bebia uma deliciosa água recém-chovida em uma poça cristalina, quando, repentinamente desviou sua atenção da comida, e reparou em um ser humano passando pela rua... O filé queimou e o caviar acabou de repente, e na cabeça da barata, só havia o ser humano. Não o ser humano que está agora deitado em sua cama box com seu travesseiro de pena de ganso, e sim aquele que caminhava encharcado pela chuva que acabara de cair... Que caminhava sem pressa pela escuridão, sem medo. A barata, que também não tinha medo, perguntou a si mesma se seria aquele ser humano, lá no fundo, semelhante a ela... Ele certamente não comia caviar com trufas, muito pelo contrário, provavelmente algo um pouco melhor que os pequenos insetos... Não vivia pelos velhos encanamentos, mas certamente seu pequeno AP era repleto destes.
A barata pensou em se comunicar com aquele ser, que apesar de tão grande, lhe parecia agora tão igual, mas não sabia falar... Hesitou então. Precisava pensar rápido, pois seu irmão agora caminhava mais apressado, voltava a chover. Decidiu então, numa louca atitude, correr atrás dele e se comunicar como fosse possível. Daí, como nunca em sua vida, disparou pelo asfalto. Não havia mais o carpete macio cobrindo o piso, que por sua vez a deixava segura no encanamento, mas havia a coragem, toda a coragem do mundo em uma barata (Isso me soôu meio irônico, eu detesto baratas). Naquela hora, não haviam exércitos capazes de pará-la, era uma maratona solitária, uma busca por um elo qual ela tinha total certeza de que se criaria. A barata e o homem, o homem e a barata... As patinhas quase se desprendiam do corpo, mas, se ela era capaz de sobreviver até a uma explosão atômica, não cederia por algo tão importante e tão próximo.
Há quarenta anos e três dias o homem chegava lá, chegava na Lua, e descobria que, para a decepção de todos não tinhamos um queijão suiço rodeando a Terra. Hoje, quarenta anos e três dias depois, a barata chegou lá usando de todo o seu esforço de pequeno artrópode, mas claro, não disse uma frase marcante como a de Neil Armstrong porque barata não fala. Não houve também trilha sonora (apesar de eu achar que Moby cairia muito bem com o momento). Contrariando todas as leis da natureza, a barata afinal descobriu seu elo com o homem, e três milésimos de segundo depois, descobriu que esse elo doia mais do que qualquer dor que já havia sentido. Mais do que qualquer Hiroshima devastada. MALDITO SAPATO 42!

3 comentários: