terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eu não ligo mas me irrito (parte1)

Eu não ligo mas me irrito.
Olho ao meu redor, observo as pessoas atentamente e me sinto extremamente irritada com quem não tem nada a oferecer - seja um ombro amigo, uma ajuda, amor ou uma teoria revolucionária. Com quem não tem nada na cabeça se não um vazio.
Mundinho medíocre esse o meu, que vivo rodeada de pessoas que mais s epreocupam em comentar sobre todas as festas que foi naquela semana e as roupas que comprou na ponta de estoque. Por que será que tem gente que SÓ fala disso? Não me chamou para a festa e não comprou roupa para mim... não ligo! Tem também os que querem só falar de quem "pegou" noite passada e de que "bebeu todas e ficou muito louco". E os que só sabem falar de si mesmos? Aterrorizante! Tanto narcisismo para nada! Ou eles realmente pensam que nós nos interessamos por tudo o que aocntece com eles? Lamento, só. E ainda tem gente que tudo o que fazer da vida é fofocar e viver pelos outros. E é sempre uma fofoca inútil, que não muda a realidade de ninguém! "Você viu? A maricota comprou um carro novo!" Ah é? Bom para a Maricota!
O problema não é falar de festas, falar da noite passada e suas aventuras, falar de si mesmo e fazer fofoca. O problema é falar somente de festas e fofocas, e não saber dialogar sobre qualquer outro assunto que seja menos dispensável.
Pessoal alienado não faz meu gênero... não ligo mas me irrito.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Prólogo

"Doce-dia, fique triste não. Fique nunca, sempre nunca, e eterna e tenra.
Cura a face, e entre as pedras faz seu riso.
E feito Sol, brilha e irradia, todo e qualquer dia, só ria, sorria... Só sorria."





Tenho muito a escrever, mas não encontro as palavras certas para fazê-lo... Hora sei que encontrarei, e por mais que eu prefira buscá-las pelo resto de minha vida, breve, muito breve, talvez até forçando os olhos para cegar-me ante o inevitável, sei que feito os cantos da madrugada, sussurrarão em meu ouvido: "Estou indo embora...".

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Janela de Passagem

(parte 4)

Apoiado na janela, observando o mulatinho, estava André, ‘o ator’. Ator mesmo de comercial de pasta de dente e remédio para diarréia. Nada mais.
Prezava por ter uma inspiração igual a do moleque.
Mas o desprezo das pessoas pelo seu amor ao teatro haviam o levado ao fundo do poço.
Observava o menino relendo um roteiro o qual um dia era pra ter feito. O relia todo dia; toda hora, só para saber que erro cometera ao ter encenado na frente dos juizes. Nunca achava um 'porque', e quando achava não tinha certeza se era por isso, sentia que nunca iria saber...Mas de uma coisa sabia: estava louco para ir comprar a sua Vodka Russa falsificada no bar da esquina, isso sim! Isso sim o deixava feliz.

Olhou para a janela apenas para ver se anoitecia calmamente. Mas trombou seus olhos com Morena, a qual gritava para João ir logo abrir aquele maldito portão.


(parte 5)

Morena chegava em casa com suas sacolas: leite, açúcar, pão; alface, tomate, salsinha; laranja, banana e carambola.
João procurava por balinhas devolvidas como o troco entre elas.
Não as achava, se desinteressava, e ia, novamente, em busca de voar.
Morena arrumava umas coisas ali, ajeitava umas panelas aqui, e preparava a janta.
Ligava a TV enquanto o fazia. Hora sagrada: novela; assunto do dia amanha na manicure, quando desviados da vida de outro cidadão.
Olhava pela vidraça embaçada da janela a lua querendo se mostrar.
Panela, Salsinha, Novela...Tudo feito, tudo pronto.
Acabou-se mais um episódio daquela vida de ficção.
Iria viver a sua realidade; iria se por na janela, naquela mesma janela que horas antes João brincara com seu avião.
Ficaria ali, em estátua, esperando Seu José voltar.
Mas porque ficava esperando seu marido embriagado, que agora estava jogado em qualquer bar de esquina, para que voltasse e repetisse as mesmas dores da noite anterior?
Porque aquele coração infeliz pulsava incansavelmente por aquele amor já inexistente; pulsava pela ultima gota de sangue que as desculpas eram válidas, e de aquilo jamais iria acontecer...

Perdida na sua espera e nos seus pensamentos ouvia os passos impacientes vindos do andar superior.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre o frio

E eis que outro dia nasceu cinza, filho dos males da vida. Não há o que discutir quando assim raia a manhã. Basta a nós somente tomar um bom banho quente, pegar um bom e empoeirado casaco no fundo do armário, e ir encarar o mundo como os seres humanos que somos.
Em dias como esse, é normal sentir frieza vinda de todos os lados... O povo Cuiabano é naturalmente caloroso, e isso parece ter a ver com o calor da cidade, beirando ou passando dos quarenta graus quase sempre. A rotina é agitada, o Sol não da trégua, e esfacela qualquer um que tente encarar a correria com roupas bonitas e cabelos arrumados. Fico com pena dos advogados, que para manter a formalidade da profissão, saem por ai com seus pesados ternos e muito gel no cabelo para estarem apresentáveis à seus clientes. Eles devem gostar quando cai a temperatura, não ficam suados e nem precisam sair com gel melando até as sobrancelhas.
Fora os advogados, no frio, percebo menos alegria nas pessoas... Sei que como eu, todos acordam sem vontade de acordar, e muitos ainda por cima tomam um banho gelado de trincar os ossos, e saem antes da claridade para pegarem seus ônibus rumo à suas próprias histórias. Não tem muitos acenos, nem muitos "bom dia" pelo caminho. O cobrador do ônibus manuseia com cara amassada o dinheiro e por vezes erra o troco, parece estar ainda em sua casa levandando da cama. O trabalhador faz mais força que o normal para passar pela catraca, e logo desaba próximo a uma janela e encara o mundo pelo vidro como se tentasse encontrar alguma motivação no asfalto que rapidamente é deixado para trás. Não há no entanto nenhum grande consolo para o começo de um dia frio. Vê-se de seu casulo no máximo um gato morto próximo ao meio fio ou algumas pombas voando desajeitadas pelo topo dos prédios.
O ônibus para no ponto da praça Alencastro, próximo a prefeitura, e dele saem ainda como lagartas os Cuiabanos. Secretárias e comerciantes se espalham pelos casebres e edifícios do centro, e a cidade vai ganhando vida pouco a pouco. E mesmo com quatorze graus ferindo a pele, o Cuiabano faz seu serviço da forma costumeira, sem pestanejar e esperando que no decorrer do dia encontre seu motivo para sorrir.
Assim é vencido o frio em Cuiabá, vezes com caras rabugentas, resmungos, e uma teimosa esperança de ver no MTTV um novo anúncio de: "Previsão de trinta e nove graus e meio na capital para amanhã". No fundo no fundo, Cuiabano é meio pecilotérmico, e apesar de praguejar o calor do meio-dia, não sabe viver sem ele. Dia de frio tinha mais é que ser feriado municipal... Algo do tipo "Dia do urso" ou sei lá.