quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre o frio

E eis que outro dia nasceu cinza, filho dos males da vida. Não há o que discutir quando assim raia a manhã. Basta a nós somente tomar um bom banho quente, pegar um bom e empoeirado casaco no fundo do armário, e ir encarar o mundo como os seres humanos que somos.
Em dias como esse, é normal sentir frieza vinda de todos os lados... O povo Cuiabano é naturalmente caloroso, e isso parece ter a ver com o calor da cidade, beirando ou passando dos quarenta graus quase sempre. A rotina é agitada, o Sol não da trégua, e esfacela qualquer um que tente encarar a correria com roupas bonitas e cabelos arrumados. Fico com pena dos advogados, que para manter a formalidade da profissão, saem por ai com seus pesados ternos e muito gel no cabelo para estarem apresentáveis à seus clientes. Eles devem gostar quando cai a temperatura, não ficam suados e nem precisam sair com gel melando até as sobrancelhas.
Fora os advogados, no frio, percebo menos alegria nas pessoas... Sei que como eu, todos acordam sem vontade de acordar, e muitos ainda por cima tomam um banho gelado de trincar os ossos, e saem antes da claridade para pegarem seus ônibus rumo à suas próprias histórias. Não tem muitos acenos, nem muitos "bom dia" pelo caminho. O cobrador do ônibus manuseia com cara amassada o dinheiro e por vezes erra o troco, parece estar ainda em sua casa levandando da cama. O trabalhador faz mais força que o normal para passar pela catraca, e logo desaba próximo a uma janela e encara o mundo pelo vidro como se tentasse encontrar alguma motivação no asfalto que rapidamente é deixado para trás. Não há no entanto nenhum grande consolo para o começo de um dia frio. Vê-se de seu casulo no máximo um gato morto próximo ao meio fio ou algumas pombas voando desajeitadas pelo topo dos prédios.
O ônibus para no ponto da praça Alencastro, próximo a prefeitura, e dele saem ainda como lagartas os Cuiabanos. Secretárias e comerciantes se espalham pelos casebres e edifícios do centro, e a cidade vai ganhando vida pouco a pouco. E mesmo com quatorze graus ferindo a pele, o Cuiabano faz seu serviço da forma costumeira, sem pestanejar e esperando que no decorrer do dia encontre seu motivo para sorrir.
Assim é vencido o frio em Cuiabá, vezes com caras rabugentas, resmungos, e uma teimosa esperança de ver no MTTV um novo anúncio de: "Previsão de trinta e nove graus e meio na capital para amanhã". No fundo no fundo, Cuiabano é meio pecilotérmico, e apesar de praguejar o calor do meio-dia, não sabe viver sem ele. Dia de frio tinha mais é que ser feriado municipal... Algo do tipo "Dia do urso" ou sei lá.

Um comentário:

  1. Por isso eu amo a minha cidade! o calor dela (em todos os aspectos) me faz sorrir.

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