quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Inté

- ...Não é questão de abandonar tudo, mas sim uma oportunidade de ter um recomeço; de fazer tudo com outros erros, com outras vozes e com outros alguéns. Quem você deixará nessa vida, nunca será deixado, todas essas pessoas que ficarão construiram dentro de você um pedaço que pode ser chamado 'delas'. É só uma oportunidade que o tempo lhe propôs. Uma maneira de se reencontrar, ou de achar uma parte que estava perdida todo esse tempo...
-Mas e se eu não me der bem?
- Aí está, você sempre acaba bem. Me dê um abraço, que já está na hora de ir!

Aquele abraço selou a promessa de nunca esquecer as pessoas que estiveram presente em sua outra vida.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Paris

Pela janela as luzes da cidade tornavam-se insuportavelmente hipnotizantes. Talvez a quantidade de álcool que tomara para apartar a briga não fora o suficiente para ultrapassar uma mísera dor de cabeça. Aquela festa havia levado a essência do que ela era, agora, apenas queria ser.
Queria ser a menina que desistiu de tudo só pra seguir com ele, que rezava para que aquela mancha de batom fosse sua e para que os segredos que confinara morressem naquele momento com o rapaz.

Satine levantou, e puxando Christian disse: "Paris, ao anoitecer, já não é tão bonita assim".

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

México

''Nunca imaginei estar deitado sob o mesmo teto de estrelas com alguém como você, construindo uma história de amor que durará apenas mais um dia...''
disse o rapaz olhando para a viajante, enquanto se acomodava entre os grãos de areia.
A menina, depois de seis meses pelo México, prefiriu no último dia não querer acordar, para não ter que continuar sem ele. Queria ficar apenas a olhar o reflexo das estrelas se afogando naquele pedaço do mar caribenho, jogando suas palavras ao vento e dividindo o mesmo pedaço da areia com o rapaz...

Mas o que restou foram aquelas palavras, que ficaram ecoando em seus ouvidos, banhadas ao som da maré.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Caro Novo Amor,

Desculpe se não o trato de um modo mais formal, mas creio que se lembre que somos conhecidos de longa data. Sei que conhece tanta gente, afinal é tão citado em músicas e em tantos textos de desconhecidos, mas sou aquela que da última vez você deixou aos prantos, abandonou. Foi apenas a Saudade que ficou para me consolar. Como pode? Algo tão doce ter acabado assim. Espero que agora seja diferente, tenho dúvidas se devo deixá-lo prender-se em mim; se vale a pena encontra-lo.
Digo que não depositarei toda a minha confiança em seus braços, você terá que conquista-la aos poucos. Conquistar o meu sorriso e minha paciência. Penso estes serem pontos mínimos estabelecidos entre nós, já que você entrou em minha vida sem pedir permissão, veio como se nunca tivesse me derrubado.
Só não traga a Ausência, estamos brigados. E nem a Tristeza e a Solidão, ouvi dizer que não são boas companhias.
Não sei se é tarde ou cedo demais para esperá-lo, mas o que posso dizer? Não temos hora marcada. Apenas o aguardo para conversarmos bobagens, sorrirmos, discordarmos...Para que complete a outra metade existente em mim.
Escrevo junto ao Coração e espero que se tornem amigos.

domingo, 11 de abril de 2010

O outro

Deixando a mão escorregar pela outra metade do colchão sentia que o calor do outro corpo tinha ido embora...Esfriara tão rápido ou há muito tempo?
Abriu os olhos lentamente, queria não ter a certeza.
Era como se metade de si não estivesse mais ali.
Espreguiçou-se e deixou os olhos fixos na coberta que parecia intocada, como se o outro corpo apenas tivesse desaparecido.
Olhou ao redor; a porta da varanda agora estava aberta e o vento insistia em entrar para esfriar-lhe cada vez mais o coração.
Entendeu tudo.
Esperava apenas que ele não tivesse se jogado da varanda, afinal, era uma longa caminhada do sétimo andar até o chão.
Entendeu tudo aquilo como se não quisesse entender.
Se não entendesse todos aqueles anos seriam apenas longos sonhos.



O engraçado é que até hoje dorme com a porta da varanda aberta como se esperasse, até um dia, ele voltar.

domingo, 21 de março de 2010

Pôr-do-sol

Hoje parei para ver o pôr-do-sol, assim sem motivo algum. A luz alaranjada cortou minha janela e veio ter com os meus olhos um encontro raro. Percebi então que tenho cada vez mais perdido da vista as cores da vida. Sei que cheguei ao fundo, pois registrei numa fotografia o céu daquele momento. Ele estará no mesmo lugar, todos os dias até que eu não esteja mais aqui, e muito além disso, ainda assim, guardei-o na gaveta como quem guarda qualquer memória usada. Guardei com medo de nunca mais vê-lo, medo de que amanhã o Sol nem nasça, ou que o tempo nuble e o esconda sobre as nuvens. Que medo tolo. Estou deixando a rotina me secar.
Tenho visto o tempo como uma pequena ampulheta, como poucas horas escorrendo devagar, mas consumindo vorazmente cada segundo, comendo da minha fome, bebendo da minha sede, vivendo da minha vida de forma tão intensa, que cada um dos segundos estilhaçados, leva consigo outros segundos, e durante um só suspiro, feito um ciclo vicioso, um dia inteiro escorreu pelo ralo, deixando-o entupido... Deixando-me engasgado.
Hoje parei para ver o pôr-do-sol, e vi também, muitas horas depois, uma borboleta repousando no chão. Tomado por uma irracionalidade, quase a pisoteei, mas, graças! Não o fiz. Ajoelhei-me, e colocando a ponta do dedo indicador ao seu lado, deixei que ela subisse em minha mão e me levasse para voar, pois tenho andado muito por terra, e toda essa poeira urbana entope o pulmão. Os olhares da rua tem me intimidado, conjugo o verbo passear somente recheado de vergonha. Parece até que procurar a paz se tornou uma mistura de crime e compromisso... Temos que marcar hora para ouvir os passarinhos piando, e temos que fazê-lo escondidos. Logo mais, não duvido, será preciso os engaiolar para poder, na privacidade de nossos lares, escutar que seja uma triste canção de cárcere. Que desumanidade, tirar dos céus a melodia para alimentar tão mesquinho desejo.
No meu corpo, tudo o que me fazia vivo tem se rendido a mecanização. Meu coração tem batido só para pulsar o sangue, não marcam mais embalos ou paixões. Minhas pernas correm mesmo quando estou parado, se movem com medo de ficarem para trás, como se tudo fosse uma grande maratona. As mãos e lábios, céus, não contam mais histórias, a escrita tem saído muda e a voz tem grafitado em branco.
Hoje parei para ver o pôr-do-sol, e, ao final das contas, foi ele quem parou para me ver. E ele me contou que por trás de todas as nuvens coloridas, o tempo tem mais areia que mil Saharas, e que tal como a borboleta, ao chão só cabe o nosso repouso, pois viver é voar.



E como foi lindo o pôr-do-sol de hoje... Respirei de um sossego que a muito não respirava, e pude, ainda perdido em tal, tecer da calmaria as palavras que aqui foram registradas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Silêncio

Oi gente! Pois é, eu sei que eu sumi. E que o blog tá meio abandonadinho... mas temos uma justificativa: pessoal, os três integrantes deste blog tão querido está em ano de vestibular. E isso é sinônimo de: correria, tensão e desespero. Peço desculpas em nome dos três, mas é que está realmente complicado.

Comentário deste post de hoje: não é o melhor que eu posso fazer, eu sei. ;_;

Silêncio

A vida exige muito de cada um de nós, às vezes um esforço contra a natureza humana. Dentro de cada um de nós existe uma auto-cobrança anormal: de agradar ao marido, de pôr comida na mesa, de estar feliz o tempo tempo, de compreender tudo o que acontece a nossa volta... E esquecemos que somos humanos.
Há momentos que a gente precisa fugir da rotina, dos medos, dos tormentos, das pessoas, das lágrimas e até dos sorrisos. Certas horas a gente precisa de um refúgio de nós mesmos. Precisamos esquecer do tempo, da mente, da alma. Às vezes a gente só precisa de silêncio. De nos transmitir a um mundo unicamente nosso, de sonhar, de nos elevar.
O silêncio é amigo, companheiro. Quando a vida está no limite, ele lhe auxilia, ajuda, guia. Ele vai lhe mostrar a saída das suas aflições. Ele conforta, e nos faz enxergar detalhes da vida que não estão em tanta evidência.
Na sua libertação de si mesmo, o silêncio é a melhor fuga.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Janela de Passagem

(parte 7)

Os degraus terminavam juntamente com aquela vida de conforto que durou aproximadamente 18 anos. Fernando, enfim, deixaria aquela casa carente em busca de outras ilusões.
Pelo barulho da madeira, Morena sabia que seu filho esperava seu ultimo toque: se dissesse não, sairia na manhã seguinte, escondido; se dissesse sim, teria o sorriso do filho, um abraço, um adeus, e a incerteza...Mas a incerteza de que?
Virou-se; olhou com aquele aperto de coração materno para o filho, e... apenas olhou.
“Desse jeito coração nenhum aguenta”.
Preferiu, não falar sobre o sim ou não; preferiu deixar por conta da vida traiçoeira que o guiaria dali para frente; preferiu dar um abraço envolvendo-o como se tivesse apenas cinco anos, sendo apenas o seu menininho.
‘Vai...Vai além dessa janela se tem oportunidade, e se der, volta um dia pra me buscar.’
‘...Eu volto mãe, eu volto.’
‘Vai e volta com Ele.’
Sorriu dentro daquele contexto apertado e baixou os olhos.
Baixou os olhos só pra’quela janela ver.
Voltara a espera de Seu José.

Fernando levantou as trouxas com aquele ar de leveza, e sentiu-se livre pela primeira vez.
E a primeira vez que se sente a liberdade correr as veias, é única.
Escutando a porta bater, Morena entendeu. Entendeu o que era a incerteza que a assustava alguns minutos antes, era a incerteza de aquele filho, o único que podia protege-la, nunca mais voltar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Janela de Passagem

(parte 6)

Naquele segundo andar andava, impacientemente, Fernando.
Único filho que havia puxado Seu José na pele clara. Mas outro filho que queria ir mais do que além, sair daquela sua janela. Iria contra a vontade de sua mãe; sairia um pouco para fazer cinema, estava a dois dias do seu ‘passe de liberdade’, mas as malas já estavam feitas, esperando por ele na beira da porta.
Impaciência e indecisão deixavam com que continuasse.
Mais passos...Cadeira, mesa, gaveta, papel, caneta, fotografia.
Deixaria o sudeste com rumo ao sul; deixaria o amor com rumo a liberdade.
Escrevia agora uma carta, admirando as estrelas por aquela janela imensa do seu quarto.
Havia um papel com apenas algumas frases curtas; frases dirigidas para uma menina conhecida por Pequena, que morava no fim da rua, em cima do bar.
Dizia que tinha que ser rápido, e que tudo o que ele teria a dizer ela já sabia, mesmo que soubesse apenas de um jeito duvidoso.
Completou as frases com palavras bonitas, e terminou a carta com um ‘até breve’.
Voltou a olhar as estrelas por aquela imensidão escura, deixou seus olhos passearem pelo vácuo transposto pela janela, e agora via apenas o brilho do quarto da pequena no fundo, do outro lado da quadra. Tudo, enquanto pensava: ‘Até breve quando, pequena?’
Largou a caneta; deixou a janela, dobrando o papel e colocando no meio uma fotografia dos dois; pegou as malas e seguiu em rumo as escadas, enfrentaria agora o último porém: Morena.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Soldado alado

Lá fora chove... Sei porque ouço baterem os pingos na janela do meu quarto. Queria sentir a água acariciar minha pele, provar um pouco do frio que a brisa noturna trás. Seria tão fácil saciar meu desejo, apenas duas portas até a sacada e alguns passos até o beiral, e estaria vulnerável a minha ânsia, tal como um guerrilheiro estaria à sua morte. Reluto, não o faço... Assim, simples desse jeito... Não caminho até aonde o céu nublado me veja.
A grandeza embalante do que me cerca é mais forte, me amedronta. As luzes do centro da cidade vêm de longe sendo vagarosamente consumidas pela escuridão até virarem sombras de vaga-lume que cintilam dançando o coaxar das rãs e o chiar dos grilos, brindando em um suspiro aliviado o sono das vidas, o repousar do caos. Reina a serenidade. Quem sou eu para quebrá-la?
Meus olhos trincados de negar vontade buscam refúgio entre quatro paredes, transito em parafuso pelo piso de madeira, andando em círculos sem querer cessar. Sei onde minhas pernas querem me levar, não dou trégua, temo o mundo e ligo o ar condicionado. Não o faço por calor, mas por silêncio... Rezo para que seu ruído finde as vozes da noite, quero só a paz.

E, no entanto, a cada rota de fuga que busco, percebo voltar a um beco sem saída; A maçaneta me encara, eu desvio o olhar. O vento vem trazer perturbação. Assopra forte e atira chuva contra minha janela, emudece o compressor, não há mais paz. E que ironia nessa hora eu descobrir que quando se trilha um círculo, o único destino é o estonteamento.
Cambaleio até o interruptor. Desligo a luz por precaução... Não sei o quê pode estar me observando. A falta de luz me cega, chego próximo a janela, e com dedos trêmulos destravo suas abas. Caio em mim quando pelas brechas recém abertas entra o inimigo destemido. Dois pares de asas velozes, grandes olhos vidrados em mim... Suas armas estalam e atiram para ferir-me sem dó. Corro em formas mil, hei de encontrar uma saída! Quadrados, triângulos, espirais e esperanças. Meu dedos sangram, roi as unhas até arrancar a pele. Mato a goles férreos o rubro visco da vida, e de repente não há mais madeira sob meus pés... Corri tanto que cavei um buraco, estou agora em terra batida e cascalho. Trincheira de guerra... Estou em guerra. O que eu ouço não são pingos d’água, são flechas de fogo buscando minha pele, clamando o saciar da fome de cortar meu couro, e cantando em coro a brasa e a prata.

Deixo o desespero me dominar. Há um exército inteiro ao redor de minha fortaleza, e sou apenas um homem. Em minhas mãos tenho a honra de todos os meus companheiros mortos em batalha, nada além disso, não tenho armas.
Abaixo a cabeça buscando sonhar uma saída; Não sou só um homem, sou o sobrevivente! Sou o ultimo cavaleiro, a esperança derradeira.
A honra agora é uma bomba relógio, corro para minha antiga rival, a maçaneta, e unindo forças a ela, liberto-me de meus temores. Feito búfalo errante ataco a porta de vidro que me separa do campo de batalha, numa única investida arrebento-a e rolo sobre seus destroços. O sangue é ferro, protege minha pele.
Tenho, tal como a vida, somente uma chance de acertar meu golpe. Miro então o principal vilão, o berço de escuridão e flamas que rege todo o batalhão da noite. Galopeio pela sacada, pisando à pele nua sobre cacos de vidro e sangue, arrebento a tela do beiral e vôo rumo ao exército do Céu. Soldado alado se apresentando, senhor!


17/01/10