quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Janela de Passagem

(parte 6)

Naquele segundo andar andava, impacientemente, Fernando.
Único filho que havia puxado Seu José na pele clara. Mas outro filho que queria ir mais do que além, sair daquela sua janela. Iria contra a vontade de sua mãe; sairia um pouco para fazer cinema, estava a dois dias do seu ‘passe de liberdade’, mas as malas já estavam feitas, esperando por ele na beira da porta.
Impaciência e indecisão deixavam com que continuasse.
Mais passos...Cadeira, mesa, gaveta, papel, caneta, fotografia.
Deixaria o sudeste com rumo ao sul; deixaria o amor com rumo a liberdade.
Escrevia agora uma carta, admirando as estrelas por aquela janela imensa do seu quarto.
Havia um papel com apenas algumas frases curtas; frases dirigidas para uma menina conhecida por Pequena, que morava no fim da rua, em cima do bar.
Dizia que tinha que ser rápido, e que tudo o que ele teria a dizer ela já sabia, mesmo que soubesse apenas de um jeito duvidoso.
Completou as frases com palavras bonitas, e terminou a carta com um ‘até breve’.
Voltou a olhar as estrelas por aquela imensidão escura, deixou seus olhos passearem pelo vácuo transposto pela janela, e agora via apenas o brilho do quarto da pequena no fundo, do outro lado da quadra. Tudo, enquanto pensava: ‘Até breve quando, pequena?’
Largou a caneta; deixou a janela, dobrando o papel e colocando no meio uma fotografia dos dois; pegou as malas e seguiu em rumo as escadas, enfrentaria agora o último porém: Morena.

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