segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Janela de passagem

(parte 1)

Duda dirigia-se a janela dos fundos como fazia rotineiramente. Abria-a com a audácia de um praieiro esperando por mais uma manhã de sol...Triste saber que ali era de chuva.
Se já não bastassem as botas batidas ficaria ali agora, eternamente, esperando por ele passar. Esperando pela ausência que nunca será preenchida, apenas tampada com um pouco de tempo dentro da saudade.

(parte 2)

D’outro canto da casa estava dona Inácia, típica senhora -avó de Duda-, com seu vestido de flores azuis. Agarrada ao peitoril da janela de conversinha com Dona Inês, fofocando mais uma vez da Morena:
“Mas essa Moreninha! Será que não cansa de crescer barriga não?”.
“Deixa ela, Na... d’ela ainda são só três, e você que teve nove para alimentar?”
“Os tempos são outros, Nê! São outros...”.
E seguiam-se os nas e nês até a panela de pressão chamar pelo almoço.

(parte 3)

Do outro lado da rua estava João Antônio: mulatinho, sete anos, sonhador.
(Sonhador... Palavra tão desejada entre muitos daqueles cantos).
Olhava a janela como se fosse doce. Estava esperando sua mãe, Morena, voltar da quitanda, enquanto brincava com seu aviãozinho de papel; furava nuvens e atingia estrelas, ora aviador, ora astronauta, seguia cometas e pegava passageiros de todos os cantos.
Ia de janela a janela imitando o som do motor, parava às vezes para olhar se sua Mãe chegara, se estivesse ali teria de deixar o avião em modo automático e ir ajudar com as compras, mas enquanto ela não chegava dirigia seus olhos ao céu, tendo apenas a janela como a barreira para o infinito.

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