sábado, 25 de abril de 2009

Haver (uma trilha sem rumo...)

Haver

O texto qual posto hoje, foi trabalhado com um carinho especial, pois foi escrito a pedido de uma grande amiga minha. Ela queria algo que a ajudasse a encontrar o caminho certo a rumar na vida, e que também "matasse" um pouco dessa angustia que existe em relação ao amanhã. No final das contas, enquanto escrevia, acabei encontrando um pouco mais de paz dentro de mim mesmo, e foi com ajuda dessa paz que trabalhei durante o mês que passei "peneirando" meu pensamento sobre o que um dia virá a acontecer em nossas vidas. Tal escrito foi de grande bem e importância tanto para mim, quanto para essa minha amiga, então, no mais, espero que gostem.

Um grande abraço.





Haver


Letra por letra, traço no papel uma trilha sem rumo... Cada palavra passada bifurca meu mundo, parte em cacos canto a canto a minha arte, encobre, divide, apaga e reescreve.
Escrevo enquanto a trilha sem rumo só se estende.
Não há sentido que me guie pelo som hipnótico do lápis rabiscando o papel, sinfonia que precede ou prolonga o fim de cada estória.

Não sei resistir, tampouco re-existir a cada novo final. Quero mais, mas não sei como tê-lo... Fecho minha mente por escassez de palavras. Os devaneios que em mim se formam não se algemam a dicionários e gramáticas, vão além do alcance da língua... Beiram o céu e o inferno. Busco na veia, com cada gota de sangue, uma migalha de pão que retome o meu norte, e busco com tal intensidade, que perco toda a certeza sobre qualquer busca. Ai então, só fecho os olhos para sentir os riscos e rasgos do desfazer da grafite.

Escrevo enquanto a trilha sem rumo só se estende... Preencho com gracejos e lampejos da certeza do incerto que me aguarda. Além de cada folha se esconde talvez um novo tesouro, ou quem sabe qualquer segredo... Pedras e sementes, desertos, sóis, maçãs... Dores. Alma alguma se contenta apenas com um rodapé, que posso fazer então? Enquanto houver espaço, corpo, tempo, e algum modo de dizer não; Escrevo.

E meus olhos por vezes cedem ao cansaço, e pedem pelo repouso no remanso de um rio da vida, os pés na água me afogam por inteiro, correm lá minhas próprias idéias, como peixes ou borbulhas. A correnteza há de me levar, sequer reluto. Não há luta, apenas o tempo.

Escrevo enquanto a trilha sem rumo só se estende... Além de qualquer vale, corta a trilha. E ai daquele que com o olhar tentar ver o fim de sua estrada, pois tal é tão distante quanto o ouro ao cabo do arco-íris. O vento há de guiar os passos. Não tem pressa, apenas o tempo.

Brilham no céu as estrelas, e cá qual mão suave, borras de chá ou cartas abertas hão de dizer o que os astros sabem? E qual constelação há de ensinar o viver ao tempo? Para que olhar os ponteiros do relógio, esperando a meia-noite e imaginando o novo dia? Temos mais é de viver o agora. Quanto ao depois, deixá-lo-emos com o tempo... Por hora, apenas viro a página, e escrevo enquanto a trilha sem rumo só se estende.

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