quinta-feira, 7 de maio de 2009

Continuação...

(...)O olhar, a boca, as palavras, o jeito que seus braços me envolviam, e eu me apaixonava cada vez mais.
E como todo bom romance, logo vieram nossos problemas. Começou com a família dela, ‘moço mais velho e de cidade grande não é certo!’, ‘ ta querendo alguma coisa, ou tem coisa aí!’, “ onde já se viu moço formado namorar menininha?’ , e eles tinham razão – em partes-. Era sete anos mais velho, ela 16 e eu 23. Não conseguia viver uma noite sequer sem sair, mas certo eu era, não fumava e bebia pouco. Estudava e tinha um bom conhecimento, e falando nos estudos, foram eles que mais nos separaram, não que tivessem escrito nosso óbito. Minha família é descendente de Italianos, tanto que eu sei a língua, e desde quando era um pequerrucho queriam me mandar para Itália para estudar. E fui. Deixei minha menina, aqui, sozinha. Meu broto crescer sem mim. Mas assim foi, na semana da minha partida ela havia voltado para sua cidade, e seus pais não deixavam a um bom tempo nos vermos. Não teria tempo de ir para lá, e ficaria na Itália durante quatro anos, exatos, iria numa quinta feira, e pretendia voltar em outra. E é nesse ponto que as rosas entram, fiz uma promessa a Iaiá onde as rosas se encaixavam. Na quinta feira da minha partida, mandei a ela um buquê de rosas brancas e vermelhas com um cartão, e nele estava escrito: “Do nosso amor, a gente é quem sabe pequena. Prometo lhe mandar rosas durante todas quintas feiras. Se elas não chegarem, olhe pela janela”. E seguia logo abaixo um endereço para ela me mandar cartas enquanto estava fora.
E foi assim, durante meus quatro anos na Itália, e esses foram bons...Mas também não via a hora de voltar, sentia vontade de abraça-la, sentir seu perfume e ver os girassóis. Como disse anteriormente, voltei numa outra quinta feira, com uma semana de atraso, mas pelo menos, voltei. Nesse dia as rosas não chegaram para ela, e a boa moça olhou pela janela como eu disse para fazer, e ela encontrou-as, só que agora, seguras pelos meus braços.
- Está tarde para um café?
E ela veio me receber com um sorriso de orelha a orelha. Estava com um ar mais de moça, e vestia um vestido daquele tomara-que-caia, preto, e com um colar de pérolas cinza. Foi naquela noite o meu pedido, não houve um namoro verdadeiro antes, mas optei por um casamento verdadeiro depois.
Já tinha planejado, se o pai dela aceitasse, moraríamos em Campinas ou até mesmo ali na cidadezinha, caso ele recusasse, fugiríamos para a Itália, onde eu já bem conhecia. Pena este ultimo não ter dado certo, teria sido uma grande aventura casarmos escondidos, mas foi impedido pelo pai dela, pois ele aceitou de primeira meu pedido, disse que agora, eu já estava preparado. Eu cheguei em Janeiro e nos casamos em junho, eu com 27 e ela com 20. Tivemos cinco filhos - eram seis na realidade, mas um nasceu de seis meses e não sobreviveu. Nos mudamos para Campinas então, comecei a trabalhar como advogado, e ela ficou em casa cuidando dos nossos filhos.
Admito ter passado por uma fase cheia de brigas e nervosismo, mas toda quinta feira ela se apaixonava por um botão de rosa... E assim, mantenho minha promessa até hoje, esperando que ela se apaixone cada vez mais e não me esqueça, nunca
.”
Terminou o pedaço de sua história voltando a olhar para baixo e deixando que de seus olhos caísse uma gotícula de lágrima, perguntei a ele como Iaiá poderia o esquecer depois de tantos acontecimentos e de tantas rosas, e ele finalmente levantou, agora, para responder a minha pergunta e dar um rumo na vida que lhe resta.
“Meu bem, agradeço-lhe pela conversa, mas tenho que me apressar, o cemitério fechará em uma hora! E ainda tenho que entregar as minhas rosas a minha pequena, afinal, hoje é quinta-feira... E se cumpri minha promessa durante quase 50 anos, não deixarei um só dia passar daqui para frente. Deve estar se perguntando porque ainda falo dela no presente e uso este símbolo, e digo a você que saberá apenas quando suas mãos se encaixarem em um outro alguém, um alguém que você passará a vida amando, e se lembrando depois e depois. Agradeço-lhe mesmo, de coração! Espero encontrar-lhe na próxima semana, de preferência no mesmo horário, para poder contar mais algumas coisas e lhe explicar sobre outras...”
Fiquei sem palavras no momento, apenas surpresa, sem saber se respondia com um “sinto muito” ou deixaria passar, mas mesmo que fosse responder algo seria tarde demais. O senhor já estava do outro lado da rua, e logo se perderia na multidão, sendo talvez possível vê-lo apenas por sua boina nublada.




Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade, pois é, que assim em ti eu me atirei...Los Hermanos

É sempre amor, mesmo que acabe.
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude.
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou. Bidê ou Balde

2 comentários:

  1. Não vou gastar espaço falando coisas que sei que não vão mostrar o que quero...
    Então, simplesmente estou sem palavras.
    No mais (ou no menos...) simplesmente lindo.

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