domingo, 21 de junho de 2009

Espelhos da alma

Requieto, mirava até então os distantes espelhos d'alma, tão belos... Mirava-os, e ainda que o fizesse fervorosamente, não via meu reflexo em canto nem beco algum daquele universo paralelo que se estendia por toda a profundidade dos mares, céus e sonhos. Sim, mirava-os como num sonho, como se fosse real, como se os tivesse para mim de forma qual nunca viessem a fugir ou sumir em sequer um raio que anunciasse o primeiro suspiro do Sol. Mirava um Sol, ou bem, dois sóis que brilhavam por duas mil outras estrelas.
Acalentava-os com os olhos, sem deixar por segundo algum ser mirado, para que não voassem flechas à minha direção. Se ferido fosse, meu sangue desataria a correr, pois fiz de meu peito também o meu calcanhar de Aquiles.
Amava-os como ama o poeta as suas mágoas, deveras com pesar algum, também como fazem as flores que brotam na noite, da sombra de uma sombra. Fascinado pelo que irradia, mais que uma canção sentimental que corre por entre os dedos, por notas vagas feito saudade do que não se tem, feito canto que se canta em vão, no vão da vida tão vã, tão vã.
Busco, ao menos por palavras que venham a roubar todo o narcisismo (que tenho não por mim, mas por ti) para entregar a quem, a quais, espelhos que maestrizam cegamente meu requieto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário