segunda-feira, 1 de junho de 2009

Café

da kMe chama sempre assim, pr’uma conversa qualquer. E me encanta; canta.
Não liga pr’o que quer e nem para o tom do lugar. Mas quer ficar sempre entre nós, entre mim. A cada dia me cativa mais, como quem nada quer.
“Senta’qui!”, dizia afofando o lugar.
Chovia d’outro lado do vidro, e via-se a sincronia das folhas. O vento cantarolava, fazia sua mais bela melodia entrelaçar aquelas palavras túrgidas, abafadas e atrapalhadas ditas pelo plausível ser a minha frente. Ficava bonito...Mas talvez só para mim. Quem estava ao lado fingia não ver, mas ria de suas imitações tolas.
Falava; falava; falava e parou. Interrompido por um garçom: pediu dois cafés. E num intervalo de dois minutos para menos, observando a chuva, voltou.
Se Passaram 4 anos entre nós, sem nos vermos, sinto que o tempo parou. Tudo estava ali em seu devido lugar, pelo menos aparentemente.
Ainda tínhamos tudo aquilo, o algo mais posto em nossos olhares.
Depois de tanto tempo sem sentir um só abraço, de tantos apertões, o seu cheiro impregnou na minha roupa. Ali, eu estava feliz.
- O café chegou.
Entre as vírgulas e pontos finais tomava um gole ou outro. Mas não me deixava a só hora alguma. Seus olhos pareciam eternamente fixados aos meus, eram tão convidativos. Eram baixos, mas não tristes; confusos e pensativos, esbanjavam um sorriso para mim. Eu às vezes queria me perder dele, mas acabava por me perder nele, assim desviava o olhar para o café, mas ele não sumia, via agora seu reflexo.
Na cadeira estava o violão (se ele pudesse contar um pouco sobre nós, jamais se calaria); na mesa, as nossas chaves, o maço de cigarros junto ao isqueiro, a carteira e nossas mãos, estas se encontrando de vez em quando, mas sempre querendo ficar encaixadas.
Já não bastava somente o calor do café.
Pegou um cigarro e começou a falar baixinho, quase que sussurrando em meu ouvido. Estava caçoando o mesmo garçom que nos atendera minutos antes. Jogou ainda outras palavras, mas não eram tão importantes, o que me deixava longe era a maciez com que eram ditas.
Não acendeu o cigarro, primeiro o passou entre os dedos e depois colocou dentro do bolso de sua camisa pólo... Costume, assim era mais fácil de procura-lo quando sentisse o vicio bater.
Deixou seus olhos deslizarem juntamente as gotículas da chuva que estavam presas ao vidro. Voltou a nossa conversa.
Trouxe um pedaço do tempo que já estava longe de nós. Uma parte entre estas duas almas que desconhecíamos.
Mostrou-me fotos e tirou da sua carteira a 3x4 que havia dado a ele antes de partir. Pena que nem tudo acaba assim bonito e certo.
Deixou cair outra, mas de uma desconhecida, se não fosse tão distraída jurava que a vi entrar no café e sentar sozinha perto de nós.
Bateu o aperto que se juntou à saudade incondicional.
Minha mente estava em outra: depois daquele café, o que mais me aguardaria? Deixa-lo ou o ver partir?
O café entre nós havia esfriado.
Olhei novamente nos olhos daquele implausível ser diante de mim, alguma coisa teria me escapado no tempo em que não nos víamos, e os bons amigos que chegaram a algum dia ser algo mais já não se conheciam tão bem, o tempo já não estava para nós, e nós não estávamos para o tempo.
Em seu dedo reluzia o ultimo pedaço que iria nos separar; me arrancar todo o esforço e amor jogado por anos.
Perguntei se era realmente uma aliança e porque não havia me contado. Respondeu com um gesto positivo e disse que não encontrou maneira alguma para me dizer, não queria me contar.Mas precisava de algum jeito me mostrar, disse que ela estava ali, e que só estava esperando o momento certo...E esse existia?
Os olhos não retratavam mais tanta confiança, mas sim arrependimento e algum pressentimento sobre dois. Sabiam o que os meus fariam agora, se encheriam, mas não se deixariam cair.
Sentiu o meu desprezo.
Acabou-se o café, mas o meu permanecia ali, quase intocado.
A terceira pessoa já olhava em minha direção pedindo com gestos de impaciência para que me retirasse logo dali.
Alcancei minhas coisas e joguei o trocado em cima da mesa, pedi para que me ligasse depois, senti sua mão segurando meu pulso, implorando para que ficasse.
Implorou tanto, que ficou subentendido entre nós.
Coloquei o capuz para enfrentar as condições lá fora.
Levantei e disse apenas: “O meu café já está frio”.

3 comentários:

  1. Eu o li em mãos, escrito à caneta, no meio da aula.
    E cara, é o melhor dos que eu já li seu, acredita? Não que eu ache os outros ruins, nem que eu ache esse maravilhosamente perfeito... mas é tão real, sabe?
    FODA. (:

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  2. eu acho esse maravilhosamente perfeito (e bem trabalhado).

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